Ricardo ZerrennerÉ mais fácil pousar o ouvido nas nuvens
E sentir passar as estrelas
Do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
E assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
Que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
O sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
Nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
Não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
E sentir passar as estrelas
Do que prendê-lo à terra e alcançar o rumor dos teus passos.
É mais fácil, também, debruçar os olhos no oceano
E assistir, lá no fundo, ao nascimento mudo das formas,
Que desejar que apareças, criando com teu simples gesto
O sinal de uma eterna esperança.
Não me interessam mais nem as estrelas, nem as formas do mar,
Nem tu.
Desenrolei de dentro do tempo a minha canção:
Não tenho inveja às cigarras: também vou morrer de cantar.
Cecília Meireles
in Melhores Poemas
Maria Fernanda (sel.)
Global Editora, 2006, p.17
6 comentários:
'Não me interessam não mais as estrelas, nem as formas do mar,
Nem tu.'
Uma negação às coisas belas da vida. Mas nem sempre o que se diz está relacionado com o nosso íntimo.
Quero que fiques bem.
Manuel
Caro Manuel:
Nem nós próprios sabemos muito bem o que vai no nosso íntimo ... daí o encanto da poesia, cada um lê o que sente!!
Beijinho
A demora não é (nem nunca foi) fruto do esquecimento mas antes da dúvida...
Ler um poema e sentir tudo baralhado ao ponto de ficar sem saber o que dizer, mas sempre com o "bichinho a roer" na cabeça e a pedir que o vejas uma e outra vez... difícil de exprimir!
Fico pelo simples (mas óbvio) - muito bonito! :)
De que servem as estrelas e as formas do mar... sem ti
Bj
... é verdade que sim; não seria a primeira pessoa que morreria a cantar. São mesmo muitas... Por outro lado, dessas e ao contrário do que afirma a poeta (que admiro), não são poucas as que morrem a cantar e cheias de inveja da "cigarra".
Assumo que se morrer a cantar, em vida já invejo a voz do José Malhoa. Digno e honesto profissional, adianto. Eu sei que a inveja é um pecado, eu sei. Mas não está mais na minha mão... Que voz que aquele homem tem...
A Cecília que me desculpe por estas incursões pelo belo canto das "cigarros" portugueses...
Sandra,
Estive a ler alguma coisa do que tens publicado por aqui, e gostei muito do que encontrei. Tens este espaço cheio de palavras fortes que nos deixam a pensar e reflectir sobre elas.
Bjs.
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