sexta-feira, abril 20, 2012

Diálogos soltos, 23

- Não penses mais nisso.
- Quem me dera!

domingo, abril 01, 2012

Domingo de ramos

sandra cardoso

agudela, abril 2012

No sense



A vontade de morrer surgia à noite. Sozinha, em casa, cansada da televisão, o amanhã não existia e apenas permanecia uma vontade de acabar com tudo de uma vez. Também não sabia por que sofria...fosse da solidão, fosse de outra coisa, loucura talvez, as lágrimas não paravam e pensava que a vida não tinha razão de ser...os medicamentos, a faca, o gás ... era tudo tão fácil! Sentou-se na poltrona cuidadosamente colocada em frente à janela. Por fora, a hera espreitava lá para dentro e Soraia ganhara-lhe amizade. Aquele era, sem dúvida, o seu recanto favorito. Por trás, a estante carregada de livros que libertavam espíritos noturnos... Havia comprado aquela casa com a condição de ficar com a mobília e com os livros. Pertencera a um poeta e os livros lá encontrados valiam uma fortuna. Tudo primeiras edições. A sua janela dava para uma praça por onde passavam as mulheres daquela vila com molhos de flores nos braços, rumo ao cemitério. A expressão era sempre grave, quando iam e quando vinham. Terra de pescadores e de mulheres fortes. Ela é que era fraca e não aguentava mais aquela clausura. Apetecia-lhe sair, mas não tinha família, nem amigos...já ouvira falar em Internet, no facebook e da facilidade com que nasciam amizades, mas nunca se deixara levar por conversas. Agora, a felicidade daquele casal estampada na montra da loja de informática atormentava -a aos poucos...eles que usam a tecnologia são felizes; eu que sempre a recusei serei eternamente infeliz. 

Soraia era uma mulher única...se tivesse pensado como todas as outras pessoas ( se a tecnologia os faz felizes, vou comprar um Ipad para  ser feliz) a esta hora ainda estaria viva e, seguramente, com mais de uma centena de amigos.

sandra cardoso(foto e texto)