segunda-feira, novembro 27, 2006

Estado segundo, XXI

Miguel Afonso

AMA COMO A ESTRADA COMEÇA

Mário Cesariny

in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa

Eugénio de Andrade (org.)

Campo das Letras, 2000, p.488


domingo, novembro 26, 2006

Mário Cesariny

1923-2006

Ponto final

(Nem sempre o ponto é final, pois facilmente pode ser transformado, e deve até poder ser transformado, em dois pontos, ou em ponto e vírgula, ou em ponto de interrogação ou até, o sinal de que eu mais gosto, em reticências ... e aí nascem novas possibilidades!)

Sandra Cardoso

quinta-feira, novembro 23, 2006

Canto dos Sonhos, 7

NON NECESSE EST















Pedro Conceição


É um palco, e um palco de sonho
Com figuras sem dever ...
Ali um destino risonho
Funde sonhar com ser.

Cenário de sonho, ilude-o!
Acção, nunca te dês!
Ficções de interlúdio
Enganai quem vos fez!

E viva a alma a esquecer,
Em transparência alheada,
A vida, que é plebe e mulher,
E a morte, que não é nada!



Fernando Pessoa

in Poesia do Eu
Richard Zenith (org.)
Círc. de Leitores, Set 2006, p.151

sexta-feira, novembro 17, 2006

Tecelão de Falsidades















Isabel Gomes da Silva


O manto que trago vestido
Teceste-o com as tuas mãos
Com fios de vento e de mar
De sol, de sonho, de luar
Azul em toda a extensão

Traz bordado a oiro e a prata
O canto das aves, o perfume do jasmim
Por qualquer lado que passo
Admiram a sua graça
E o rebordo de marfim

Mas eu vi um fio puxado
No manto que tu me teceste
E agora, por onde passo
Desfaz-se o teu manto lasso
Que ao meu coração trago preso

Escurece tristemente o luar
O sol arrefece o azul do meu mar
E nas canções que o vento me traz
Todo o sonho se desfaz
Só ouço o grito das aves
E o meu perfume já nem tu sabes.


Tecelão, ó Tecelão,
Não sabias que fios atados
De falsidades
Se desfaziam
em mim?


Paulo Medeiros

Sandra Cardoso
in JN, 23 Set. 2006, p.48

terça-feira, novembro 14, 2006

...


















Geoffroy Demarquet


VERDADE OU CONSEQUÊNCIA?

quinta-feira, novembro 09, 2006

Canto dos Sonhos, 7


















Geoffroy Demarquet

DISSE-ME O CEGO NA ESTRADA


Disse-me o cego na estrada,
sem nenhum constrangimento,
Que andar à beira do abismo
é difícil, mas que a luz
avisa, fora das pálpebras
e a direção se conhece
pela brisa sobre a barba.


Ele andava pelos muros,
à beira dos precipícios
funâmbulo e equilibrista,
com o vento aberto na barba
e o sol nas fanadas pálpebras


Os videntes caminhavam
agarrando o muro e o chão,
pisando a sombra do cego
e as palavras que dizia.


Se algum vidente caísse
com toda a certeza, o cego
rápido o levantaria.


Cecília Meireles


in Cecília Meireles
Melhores Poemas
Maria Fernanda (sel.)
Global, 2006, p.160

domingo, novembro 05, 2006

Diálogos soltos, 5

Paulo César


(Não, não é fechar simplesmente. Pressiona-os com as pontas dos dedos para que a penumbra passe a escuridão. Sentirás, então, a passagem para um tempo e um espaço nulos.)


- Vejo um barco, no oceano.

- Impossível. Eu amarrei-o ao cais.

- Soltaram-se os ventos.

- Impossível. Eu recolhi as velas.

- Há muito que as vogais as ergueram.

- Impossível. Eu arranquei a bússola.

- ...

-No oceano, sem bússola ...

sábado, novembro 04, 2006

Diálogos soltos, 4

X. Maya

- Já disse, fecha os olhos!

- Pronto, pronto. Já está.

- Diz-me, diz-me o que vês!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Dá que pensar, 6

Pinto da Silva


" Dez minutos. Voltei a entrar. A rapariga, ainda boneca mas apenas grave, disse-me que não valia a pena esperar mais. Magoei-me com o olhar. Não sei que rosto infantil era o meu quando lhe quis dizer que podia esperar muito mais, podia esperar durante anos, talvez ainda viesse mais alguém, havia toda a espécie de possibilidades que existissem pessoas a dirigirem-se para ali partindo de vários pontos, talvez essas pessoas estivessem apenas um pouco atrasadas, quem é que nunca se atrasou? Mas não lhe disse nada. Fiquei a vê-la. Pousou o dinheiro que lhe havia dado minutos antes sobre o tampo amolecido da mesa: a mesma nota e as mesmas moedas. Houve algum pedaço de derrota nos seus gestos. Devolvi-lhe o quadrado de papel carimbado. Fino. Leve no interior dos meus dedos.Talvez a não existir."

José Luís Peixoto

in JL, Ano XXVI
nº941, p.41

quarta-feira, novembro 01, 2006

Lusitana

Rui J. Santos

Montada na garupa do cavalo
Selvagem ao vento pela planície
Montanhosa do passado que calo
Pálido fado meu fio amacie

O mar revolto e um sôfrego talo
De secreto sonho a manhã ondeie
Com suas róseas mãos possa plantá-lo
E meu coração de pedra incendeie

Sandra Cardoso