quarta-feira, fevereiro 28, 2007

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Sérgio Redondo

Quanto vale uma hora de vida?



segunda-feira, fevereiro 26, 2007

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Jorge Bica

há manhãs de chuva
que molham a alma
apenas pelo lado de fora

há tardes de sol
que queimam o corpo
realidade adentro

há noites de luar
que riscam a vermelho
o peito desiludido dorido enxuto
de tanto esperar pelo dia seguinte

tu tu banhas as pétalas
do meu sonho revolto envolto
em círculos ténues
de tempestades perenes
de verdadeiro estio
e estás sempre pronta a irrigar
de pranto de alegria de esperança
o meu plantio isto é
as minhas terras de cultivo

Manuel Fontão


segunda-feira, fevereiro 19, 2007

CHUVA

A.M.Pinto da Silva

Chove.

A grua indica o caminho.
A gaivota pousa na grua.
Olha o mar.

Chove.
Em que pensará a gaivota pousada na grua
Alta
Olha o mar
Olha a minha sala
Olha-me sentada no sofá ou deitada
O sofá
A gaivota à chuva olha o mar
Eu sentada ou deitada ouço o mar
E não chove
No sofá
Não
Chove
Na grua alta que mostra o mar à gaivota
E a mim
O que mostra o sofá?
A gaivota parte
E a mim
O que mostra o sofá?
Fica a grua
Fica o sofá

Fico.

O que mostra o sofá?

Chove.

Sandra Cardoso

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Cadastrado

Evandro Monteiro


Uma vez, aos sete anos,

partiu à pedrada a lanterna da porta da igreja

Dez anos depois, conduzindo um carro,

não parou num cruzamento de rua

onde havia um sinal de stop.

Dois anos depois, teve uma briga

num bar, e partiu a cabeça a um amigo

com uma garrafa de cerveja.

Quando se recusou a combater no Viet-Nam,

o seu cadastro provara como desde a infância,

sempre manifestara sentimentos

nitidamente de traidor à pátria.

12 de Agosto de 1969(?)

Jorge de Sena


in Poesia de Jorge de Sena

Ed. Comunicação, 1985, p.179





quarta-feira, fevereiro 07, 2007

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K.O.T.A.



ENCONTRO DE ESCRITORES DE EXPRESSÃO IBÉRICA



correntesD'escritas




sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Dá que pensar, 12

Ricardo Jorge


"Saíram juntos da exposição e foram continuar a conversa no terraço de um bar, sob as estrelas, defronte às águas negras da baía. Nessa noite, contou-me Félix, só ele falou. Ângela Lúcia possui um talento raro: é capaz de manter acesa uma conversa sem quase participar nela. Depois o meu amigo regressou a casa e disse-me:
«Conheci uma mulher extraordinária. Ah, meu caro, faltam-me as palavras certas para a definir - tudo nela é luz!»
Achei um exagero. Onde há luz, há sombras."


José Eduardo Agualusa

in O Vendedor de Passados
Publ. D. Quixote, 2006, p.151