sábado, setembro 29, 2012



Temo que se escrever uma palavra que seja sobre esta imagem a vá estragar. E não é bela por ter sido eu a fotógrafa. Tudo nela é perfeito. Os azulejos gastos mas persistentes, a ferrugem a querer beijar o rendilhado do portão, o romantismo do arvoredo atrás e mesmo as flores debruçadas no muro e a espreitar pelo portão. O cadeado adensa o mistério: o que terá acontecido a Emília?


sandra cardoso
texto e foto

vila nova da telha,  julho 2012

terça-feira, setembro 25, 2012

Diálogos soltos, 26


- Mãe, tenho medo de me esquecer da língua portuguesa.

segunda-feira, setembro 24, 2012

mar

Em sonhos te contemplo
azul e sonoro
como se te ouvisse da minha janela
que abre para ti

E passa-me o enjoo matutino de saber tudo igual
a amanhã, a ontem e a hoje
passa-me só por um bocadinho
para continuar a  procurar por entre as caras formatadas
uma palavra tua


Fujo do brilliant
sabes que sou ordinária na forma de respirar ou até menos

Pegas em mim, pedes-me amor.
e dizes-me que és feliz. Às vezes
também sou.Às vezes.
Depois tomo um comprimido
e passa.


sandra cardoso
12.09.2012









Cansada...
olhar parada o buraco
fundo
a abrir-se
no nada
profundo
e ver surgir a fada
sem varinha nem
farinha mágica
os bolos aguardam nas receitas antigas
a hora

quarta-feira, setembro 12, 2012













"Não posso desesperar da humanidade..."
Não posso desesperar da humanidade. E como
eu gostaria de! Mas como posso
pensar que há povos maus, há maus costumes?
A América é detestável. Mas deu - americanos -
Walt Whitman e Emily Dickinson. Posso
não confiar neles? A Rússia é
detestável. Mas Tolstoi é tão russo!
São maus os japoneses? Como podem
sê-lo, se têm Kurosawa e o Sr. Roberto
que me vendia hortaliças no Brasil?
E o meu Brasil tão infeliz amor, e tão
ridículo? Mas não são brasileiros Euclides
e o coração dos meus amigos? E
Portugal, como pode ser mau e detestável,
se mesmo eu que amo sobretudo o vário mundo,
o amo - ao mundo - como português?
A humanidade e as pátrias são uma chatice, eu sei.
Mas como posso desesperar delas, desde que
não sejam para mim o gesto ou as sardinhas,
o feijão ou o sirloin, ou a terrível capa
dos usos e costumes, da vaidade,
mas uma forma de ser-se humano e solitário
acompanhadamente?
 

30/10/1965
Jorge de Sena

domingo, setembro 02, 2012


De repente, abandonados ao acaso,
passamos a ser inúteis seres sem asas
com medo da escuridão eterna.
E arrependemo-nos de não nos termos abraçado.