quarta-feira, outubro 15, 2008

saudade, 2


pinto da silva


seguro-me 
a silêncios proferidos no
útero do olhar migratório
da ave.
amanhecer inaudível
desafiando a
eternidade do grito.


sandra cardoso

quarta-feira, outubro 08, 2008

rattus
Co
nta a lenda que dormia
 
Uma Princesa encantada 
A quem só despertaria 
Um Infante, que viria 
De além do muro da estrada. 

Ele tinha que, tentado, 
Vencer o mal e o bem, 
Antes que, já libertado, 
Deixasse o caminho errado 
Por o que à Princesa vem. 

A Princesa Adormecida, 
Se espera, dormindo espera, 
Sonha em morte a sua vida, 
E orna-lhe a fronte esquecida, 
Verde, uma grinalda de hera. 

Longe o Infante, esforçado, 
Sem saber que intuito tem, 
Rompe o caminho fadado, 
Ele dela é ignorado, 
Ela para ele é ninguém. 

Mas cada um cumpre o Destino 
Ela dormindo encantada, 
Ele buscando-a sem tino 
Pelo processo divino 
Que faz existir a estrada. 

E, se bem que seja obscuro 
Tudo pela estrada fora, 
E falso, ele vem seguro, 
E vencendo estrada e muro, 
Chega onde em sono ela mora, 

E, inda tonto do que houvera, 
À cabeça, em maresia, 
Ergue a mão, e encontra hera, 
E vê que ele mesmo era 
A Princesa que dormia.


Fernando Pessoa

segunda-feira, outubro 06, 2008

O AMIGO QUE EU CANTO

Poema de José Ary dos Santos

sexta-feira, outubro 03, 2008

à espera do poema, 4

paulo a. lopes

talvez a história fosse outra
se a tarde não tivesse chegado ao fim

sandra cardoso

quarta-feira, outubro 01, 2008

Crepúsculo


 Sozinha, sempre. De carro. 
Janelas abertas. Música baixa para sentir todos os sons do mundo.


O momento em que o dia se despede da noite.  
Encontro e desencontro. 
Alegria.
Abraço. Beijo. 
Dor.

As luzes das casas que se começam a iluminar. As pessoas chegam a casa, calmas.
Sorriem.
Paz. Tranquilidade.
 
A noite, inocente na sua semi obscuridade, caminhando para o silêncio.

Luzes dentro das casas. Pessoas felizes, beijando-se.
Encontro. Desencontro.
Abraços. Palavras. Sorrisos. 
Amigos.


Sozinha na Terra. 
Poderia ir até ao fim do mundo levada pela magia da hora.
Reencontro consigo.

Mas o crepúsculo é mortal. E a noite gigante.

Pára o carro.
Escuridão. 

Luz em casa.
Abre a porta, nova.


sandra cardoso