sexta-feira, dezembro 08, 2006

Canto dos Sonhos, 9

CORPO DE AROMA

X. Maya

Se foste corola ou barco,
mas quando?
minha irmã,
minha leve amante, minha árvore,
que o mundo levantava
na inocência absoluta
do instante.
Alta estavas no amplo e recolhida
como um lâmpada,
alta estavas na varanda branca.
Se acaso ainda podes ser aroma
dos meus olhos,
corpo no corpo,
retiro e substância, linha alta
da delícia,
nada te pedirei na minha ânsia
de puro espaço,
de azul imediato,
de luz para o olvido e o deserto.

António Ramos Rosa

in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
Eugénio de Andrade (org.)
Campo das Letras, 2000, p.503

5 comentários:

Catarina Alves disse...

Sandra...

Beijinho grande... Já tinha saudades de vir aqui...

Abraço

Nani

mfc disse...

É bonito... mas exactamente por isso aí estão os perigos da idealização!

Anónimo disse...

Quantas coisas não aconteceram porque não foram sonhadas ?
Não tenhas medo de exagerar no SONHO.

Bj

Anónimo disse...

(...)

"Foram Cardos, Foram Prosas"
Ritual Tejo

Alberto Oliveira disse...

... hoje não estou nos meus dias, sabes? Leio-te e perco-me rapidamente não associando pessoas, coisas, lugares, às palavras que são apenas grupos de letras em fuga desordenada à frente dos meus olhos. Alguma vez -hoje, eu posso imaginar que hajam "espaços puros","azuis imediatos" ou "luz para o olvido e o deserto"? Não, claro que não...

Leu o que tinha terminado de escrever e nem quis acreditar que tinha acabado de deixar um comentário num corpo de aroma. Amanhã iria ao médico sem falta...