quarta-feira, dezembro 06, 2006

Canto dos Sonhos, 8

A ÁRVORE DO SILÊNCIO





Se a nossa voz crescesse, onde era a árvore?
Em que pontas, a corola do silêncio?
Coração já cansado, és a raiz:
Uma ave te passe a outro país.

Coisas de terra são palavra:
Semeia o que calou.
Não faz sentido quem lavra
Se o não colhe do que amou.

Assim sílaba e folha, porque não
Num só ramo levá-las
Com a graça e o redondo de uma mão?

(Tu não te calas? Tu não te calas?!)


Vitorino Nemésio

in Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa
Eugénio de Andrade (org.)
Campo das Letras, 2000, p. 420

2 comentários:

Alberto Oliveira disse...

Não. Não me calo. Cultivo a arte de falar. Tenho um quintal cheio de palavras semeadas... mas não as colho todos os dias. Aprendi há muito que "saber ouvir" é meio caminho para "poder falar".

DE-PROPOSITO disse...

Coisas de terra são palavra:
Semeia o que calou.
Não faz sentido quem lavra
Se o não colhe do que amou.
_________________
Um poema de Vitorino Nemésio.
Este 'Não faz sentido quem lavra' talvez seja fruto de um momento de desilusão na vida do poeta, pois eu deduzo que o que ele quer dizer, é que não faz sentido amar se a pessoa amada não nos retribuir. Eu costumo usar essa máxima de 'só gostar de quem gostar de mim', ou 'olho por olho, dente por dente'.
Tudo de bom para ti.
Um beijinho.
Manuel