quarta-feira, maio 02, 2007

Poemas da minha vida, 1

Bart

A vida que não é vida

Caminhava.
E na esquina esburacada de uma casa,
duma casa já não casa,
vi os restos esqueléticos de um candeeiro antigo
que ali fora enforcado
e ali estava.
Mais à frente,
a um portal escancarado, sem portal,
havia lixo, um cheiro a gatos vivos, ratos mortos
e um murmúrio apagado, o fim real ...
mas, ali havia gente!

Depois, um cão, sujo, magro como os seus ossos.
E, depois, uma criança que me olhava.
Que me olhava!
Uma criança!
Uma criança que não era criança
mas que tinha pezitos nus trilhados na pedra
côncava daquele chão que não tinha chão;
Uma criança que não era criança mas que tinha olhos,
olhos tristes,
tão tristes que entristeceram os meus;
Uma criança que não era criança, mas que tinha voz,
uma voz quase sem voz, mas que eu ouvia!
E ali estava o ser, ali vivia;
Era uma vida que sofria, comédia que arrepia ...

Como é possível, meu Deus?!

Corri louco para trás,
gritei quanto fui capaz
mas o mundo não me ouvia.

Ameacei satanás;
Mostrei a Deus quem sofria
pedindo amor, pão e paz,
mas também ninguém me ouvia!

E tudo há tanto tempo se passou
e a sorte da má sorte, não mudou!

sérgio O. sá

Do Banco do Jardim, Poemas
Ed. do Autor, Maio 1977, pp. 58-59


5 comentários:

Espaços abertos.. disse...

Tudo o que de uma vida que não foi vida,são apenas rastos de armagura de um tempo que passou.

Bjs Zita

Alberto Oliveira disse...

... cada vez vejo e oiço mais crianças a pedirem desculpa por terem nascido... Ou serei eu (que tenho o mau hábito de estar atento á realidade) que confundo tudo?

beijinho.

Unknown disse...

cumprimentos estrela cadente
bom poema
bom fim de semana

Unknown disse...

cumprimentos estrela cadente
bom poema
bom fim de semana

Unknown disse...

...

muito triste!

mas já tinha saudades de aqui te visitar! encontro sempre colo para o que sinto...

Um beijinho enorme