terça-feira, fevereiro 13, 2007

Cadastrado

Evandro Monteiro


Uma vez, aos sete anos,

partiu à pedrada a lanterna da porta da igreja

Dez anos depois, conduzindo um carro,

não parou num cruzamento de rua

onde havia um sinal de stop.

Dois anos depois, teve uma briga

num bar, e partiu a cabeça a um amigo

com uma garrafa de cerveja.

Quando se recusou a combater no Viet-Nam,

o seu cadastro provara como desde a infância,

sempre manifestara sentimentos

nitidamente de traidor à pátria.

12 de Agosto de 1969(?)

Jorge de Sena


in Poesia de Jorge de Sena

Ed. Comunicação, 1985, p.179





4 comentários:

Anónimo disse...

Afinal quem decide, o que é certo e o que é errado?

Babel

DE-PROPOSITO disse...

Um 'texto' interessante. A disciplina, indisciplinada.
Tudo de bom para ti.
Felicidades.
Manuel

Unknown disse...

A fotografia faz-me pensar em como, quando somos crianças, tudo é simples, fácil e possível... Combatemos tudo e todos e saímos sempre vendedores porque sonhamos.

Quando, exactamente, é que ele traiu e a quem?

Anónimo disse...

Sê obediente! Torna-te dependente.

Obedecer é morrer...

Insubmissão!