" Dez minutos. Voltei a entrar. A rapariga, ainda boneca mas apenas grave, disse-me que não valia a pena esperar mais. Magoei-me com o olhar. Não sei que rosto infantil era o meu quando lhe quis dizer que podia esperar muito mais, podia esperar durante anos, talvez ainda viesse mais alguém, havia toda a espécie de possibilidades que existissem pessoas a dirigirem-se para ali partindo de vários pontos, talvez essas pessoas estivessem apenas um pouco atrasadas, quem é que nunca se atrasou? Mas não lhe disse nada. Fiquei a vê-la. Pousou o dinheiro que lhe havia dado minutos antes sobre o tampo amolecido da mesa: a mesma nota e as mesmas moedas. Houve algum pedaço de derrota nos seus gestos. Devolvi-lhe o quadrado de papel carimbado. Fino. Leve no interior dos meus dedos.Talvez a não existir."
José Luís Peixoto
in JL, Ano XXVI
nº941, p.41
6 comentários:
Nem sempre a sessão da tarde tem lugar...!
Eu vou...
Conta comigo.
Dá que pensar. É evidente que dá que pensar. Muitas coisas neste mundo se vão passando a que não encontramos uma justificação plausível.
Fica bem.
Um beijinho para ti.
Manuel
Lindo...
Também gosto muito de ler o José Luis Peixoto no JL. Também gostas do "Homem do Leme"?
Beijos
JL Peixoto nunca nos deixa indiferentes.
A existência dentro das palavras!!!
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