quinta-feira, novembro 02, 2006

Dá que pensar, 6

Pinto da Silva


" Dez minutos. Voltei a entrar. A rapariga, ainda boneca mas apenas grave, disse-me que não valia a pena esperar mais. Magoei-me com o olhar. Não sei que rosto infantil era o meu quando lhe quis dizer que podia esperar muito mais, podia esperar durante anos, talvez ainda viesse mais alguém, havia toda a espécie de possibilidades que existissem pessoas a dirigirem-se para ali partindo de vários pontos, talvez essas pessoas estivessem apenas um pouco atrasadas, quem é que nunca se atrasou? Mas não lhe disse nada. Fiquei a vê-la. Pousou o dinheiro que lhe havia dado minutos antes sobre o tampo amolecido da mesa: a mesma nota e as mesmas moedas. Houve algum pedaço de derrota nos seus gestos. Devolvi-lhe o quadrado de papel carimbado. Fino. Leve no interior dos meus dedos.Talvez a não existir."

José Luís Peixoto

in JL, Ano XXVI
nº941, p.41

6 comentários:

mfc disse...

Nem sempre a sessão da tarde tem lugar...!

Anónimo disse...

Eu vou...
Conta comigo.

DE-PROPOSITO disse...

Dá que pensar. É evidente que dá que pensar. Muitas coisas neste mundo se vão passando a que não encontramos uma justificação plausível.
Fica bem.
Um beijinho para ti.
Manuel

Som do Silêncio disse...

Lindo...

Maria disse...

Também gosto muito de ler o José Luis Peixoto no JL. Também gostas do "Homem do Leme"?
Beijos

Anónimo disse...

JL Peixoto nunca nos deixa indiferentes.
A existência dentro das palavras!!!