Era um tempo em que não havia tempo. Eu vivia tardes soalheiras num jardim recortado de sonhos, onde criava a minha história com múltiplas personagens imaginárias… sozinha, perdida entre flores, pássaros, formigas…havia também o baloiço, na roda que puxara a água e que ainda rodava, esquecida do tempo…
O meu tempo era o tempo que a formiga levava a percorrer a minha mão e a subir os dedos que lhe apareciam pela frente. Sem nunca contornar os obstáculos…enfrentava-os…Terá começado aí a minha mania de filosofar (ou será que já nascemos assim?)… A formiga, frágil ser em meu poder, não desistia.
Tenho a certeza hoje da importância dessa aprendizagem na minha vida, da importância de ter vivido essas tardes sozinha, mas não solitária, da importância da natureza, do silêncio…e do tempo para pensar.
Mas que fazemos nós, agora, aos nossos filhos? Roubamos-lhes o tempo…queremos que estejam ocupados, inscritos em actividades em todos os dias das férias e até nos esquecemos de que precisam de tempo…para crescer.
Sandra Cardoso