sexta-feira, abril 13, 2007

TESTAMENTO

Luís Rosa


Vou partir de avião
e o medo das alturas misturado comigo
faz-me tomar calmantes
e ter sonhos confusos

Se eu morrer
quero que a minha filha não se esqueça de mim
que alguém lhe cante mesmo com voz desafinada
e que lhe ofereçam fantasia
mais que um horário certo
ou uma cama bem feita

Dêem-lhe amor e ver
dentro das coisas
sonhar com sóis azuis e céus brilhantes
em vez de lhe ensinarem contas de somar
e a descascar batatas

Preparem a minha filha
para a vida
se eu morrer de avião
e ficar despegada do meu corpo
e for átomo livre lá no céu

Que se lembre de mim
a minha filha
e mais tarde que diga à sua filha
que eu voei lá no céu
e fui contentamento deslumbrado
ao ver na sua casa as contas de somar erradas
e as batatas no saco esquecidas
e íntegras


Ana Luísa Amaral

Minha Senhora de Quê
Quetzal Editores
Lisboa, 1999

3 comentários:

Menina do Rio disse...

Visita breve pra dizer que não vos
esqueci e deixar meu beijo carinhoso

Na impossibilidade de escrever por estes
dias, posteio poema de uma amiga que
veio bem a calhar...

Desejo-te uma ótima semana!

Unknown disse...

ola
vou colocar um link deste blog num dos meus, se quiser faça o mesmo
"joooliveira.blogspot.com"
beijos e boa semana

Catarina Alves disse...

Sandra...

é bom voltar aqui, tendo palavras assim para me receber!

Sorriso...

Beijinho carinhoso

Nani